ALENQUER NUM SONETO DE CAMÕES?



"Alegres campos, verdes arvoredos / claras e frescas águas de cristal (...) discorrendo da altura dos rochedos // silvestres montes, ásperos penedos (...)"... será realmente da sua Alenquer que Camões nos fala, carpindo mágoas?

Há dias, arrumando arquivos digitais (que nunca estão arrumados...), surgiu-me um texto dactilografado do qual já não me lembrava de o haver guardado. Tratava-se do texto de uma conferência dada pela Dr.ª Maria Antónia Oliveira Martins de Mesquita, em 1980, na sede do Grupo Amigos de Lisboa, (quando este inaugurou o seu auditório), sob o título "Camões - Um perfil". Procurando mais dados, encontrei-o publicado no "Olisipo - Boletim do Grupo Amigos de Lisboa" (n.ºs 144-145 de 1981.82 - Na Hemeroteca da C. M. Lisboa está digitalizado e on-line).
Texto bonito de ler, é um relato da vida aventurosa do poeta e tem algumas referências a Alenquer, como quando cita este soneto, que não conhecia ou do qual já não me lembrava. E evoca-o neste contexto: Tendo o sucesso literário alcançado por Camões na Corte (e também os seus amores) alcançado notório sucesso «(...) assim alguns gentis homens têm-lhe um ódio de morte», pelo que "tanto a luta contra si se evidencia que o Poeta resolve abandonar a Corte e refugiar-se nas terras dos antepassados de seu Pai - Alenquer» (no texto, diz a autora que seu pai Simão Vaz de Camões e demais família era de Alenquer).


Vertendo lágrimas e nelas diluindo saudades, com 21 anos, está, pois, Camões em Alenquer, aqui escrevendo o soneto "Alegres campos, verdes arvoredos", nele «expressando o bucolismo da zona escolhida para refúgio», uma terra a quem ele sussurra que agora «me já não vedes como vistes, /não me alegrem verduras deleitosas // nem águas que correndo alegres vêm», afinal as mesmas águas por si, mais tarde, trazidas aos Lusíadas ao referir «(... o tom das frescas águas / que o rio murmurando lava». Polémica da natalidade à parte, este texto revela o contacto próximo do poeta com a vila dos seus maiores.
Também deixamos aqui a belíssima reconstituição que Mestre João Mário fez (com base em documentos escritos deixados) da Alenquer quinhentista, a Alenquer camoniana, onde no local abaixo do monumental Presépio existia uma farta e bela cascata que caindo das alturas se despenhava no rio atroando os ares («o tom das frescas águas). Culturalmente, Alenquer devia de apostar mais nesta sua relação histórica com o príncipe dos poetas.


1 - Torre de Menagem, 2 - Porta da Vila ou de Santo António, 3 - Igreja de Santo Estêvão (antiga Mesquita?), 4 - Igreja de Santiago, 5 - Porta do Carvalho (Arco da Conceição), 6 - Igreja da Várzea (Museu Damião de Góis e Vítimas da Inquisição), 7 - Torre da Couraça, 8 - Passadeiras da Rainha, 9 - Cascatas, 10 - Arcadas do Espírito Santo, 11 - Ermida de S. Sebastião, 12 - Igreja de S. Pedro, 13 - Convento de S. Francisco.

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PUBLICADO NO JORNAL "NOVA VERDADE" DE 1 DE SETEMBRO DE 2017

STUART CARVALHAIS (1887-1961)