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PUBLICADO NO JORNAL "NOVA VERDADE" DE 1 DE MAIO DE 2017

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MAIO MÊS DAS CEREJAS E DA FESTA DE MECA Uma quadra popular muito antiga lembra precisamente isso quando diz: « Ó minha Santa Quitéria // lá da terra da cereja // Como estás encarnadinha // lá dentro da tua igreja» . De facto, em finais de Maio, quando as vinhas já resplandecem de verde e a cereja já pinta nos vales circundantes, a aldeia de Meca veste as suas melhores roupagens para honrar a sua Santa Quitéria mártir, defensora de pessoas e animais contra o terrível mal da raiva. A romaria, uma das mais antigas do concelho e do país, acontece anualmente no fim-de-semana que se segue ao dia 22 de Maio que no calendário religioso é dedicado àquela santa, uma mártir dos primeiros tempos do cristianismo, nascida no norte da Lusitânia quando os romanos ainda habitavam a sua Braccara Augusta . Rezam as loas de um antigo círio, e a sua hagiografia não o desmente, que Quitéria teve oito irmãs gémeas a quem foram dados os nomes de Eufémia (ou Eugénia?), Marciana, Marinha, Vitória, ...

PUBLICADO NO JORNAL "NOVA VERDADE" DE 1 DE ABRIL DE 2017

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DANTAS PEREIRA, O ALMIRANTE ERUDITO Por ocasião do Congresso do Espírito Santo e em conversa com um conhecido professor da Universidade do Minho, disse-me ele: Alenquer é a terra natal de gente muito ilustre, como o almirante Dantas Pereira que, assim o penso, na sua Alenquer é uma figura desconhecida. Por acaso conhece-o? Respondi afirmativamente e acrescentei que não só o conhecia, como ainda há pouco tempo havia adquirido, num leilão de papéis antigos, um documento autógrafo de outro ilustre homem do mar, o capitão-de-mar-e-guerra António Marques Esparteiro, com apontamentos sobre a vida militar de Dantas Pereira. Isto pareceu surpreender o distinto professor, mas, convenhamos, para os que gostam de história local, o almirante alenquerense não é um desconhecido, bem pelo contrário, embora por vezes no que respeita a alenquerenses ilustres, tudo pareça esgotar-se em Pero de Alenquer e Damião de Góis… E, já que falámos em Pero de Alenquer, o piloto do Gama sobre o qual s...

PUBLICADO NO JORNAL NOVA VERDADE DE 1 DE MARÇO DE 2017

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A CASA DA TORRE Agora que surgiu envolta em andaimes, aprimorando-se para ser o futuro Museu Arqueológico, talvez seja a altura certa para aqui falarmos dela. Situada na Calçada Francisco Carmo, vulgo Calçadinha , um pouco abaixo da igreja de S. Pedro, é um dos imóveis mais antigos da vila. O historiador Guilherme Henriques chega a admitir que a sua origem remonta à presença dos romanos neste território, dizendo: «(…) pode ser que fosse outrora, uma daquelas torres isoladas ou obras avançadas» com que esse povo de grandes construtores defendia um ponto nevrálgico das suas posições ou uma passagem dum rio. Sendo certo que o antigo castro na colina sobranceira à vila foi, também ele, castrum romano (e mais tarde reduto fortificado do castelo medievo, aí se situando a sua torre de menagem), é bem possível que tenha alguma consistência esta conjectura quanto às origens da torre sobre a qual, mais tarde, se edificaram as casas. Outra hipótese já avançada é a de que esta torre, pel...

PUBLICADO NO JORNAL "NOVA VERDADE" DE 1 DE FEVEREIRO DE 2017

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DUAS IRMÃS, DUAS ACTRIZES ALENQUERENSES         Em conversa recente com um amigo entusiasta da História Local dizia eu que, em Alenquer, o Teatro tem fortes tradições e uma história que merecia ser contada. Bento Pereira do Carmo, nos seus Escritos , refere que em 1842 se representava no antigo Celeiro das Jugadas, demolido para a construção dos Paços do Concelho, acrescentando Guilherme Henriques que em 1863 aí «se construiu um teatrinho(…)». Já na segunda metade desse século representava-se na “Arcada” do Espírito Santo, sede da banda “Operária Alenquerense”; na antiga ermida de S. Sebastião, na Calçadinha , sede de uma outra banda, a “Cultura e Recreio”, e também no simpático “Ana Pereira” construído sob desenho de José Juvêncio da Silva, o “arquitecto” dos Paços do Concelho, anexo ao Clube Alenquerense, hoje Liga dos Amigos de Alenquer. Mas, para além do teatro amador que se fazia para animar as tardes e as noites dos alenquerenses, também por cá pas...

PUBLICADO NO JORNAL "NOVA VERDADE" DE 1 DE JANEIRO DE 2017

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O REAL CELLEIRO DE ALENQUER Na vila de Alenquer, no bairro do Areal, situa-se o edifício do Real Celleiro , hoje ao serviço de funções bem distintas daquelas que presidiram à sua fundação, no início do séc. XIX, logo após as invasões francesas. Procurando as origens destas instituições, consultámos o estudo de Laura Archer intitulado "Propriedade e Agricultura: Evolução do modelo dominante de sindicalismo agrário em Portugal", e aí, nesse interessante trabalho, colhemos a informação de que «no ano de 1576 foi criado em Évora o primeiro Celeiro Comum , a mais antiga associação de crédito agrícola em Portugal». Estas instituições teriam vindo reforçar o auxílio pelo crédito que já se praticava em Portugal desde o fim do século XV, por intermédio das Confrarias e das Misericórdias. Segundo a autora citada, o Celeiro de Évora inicialmente chamou-se Monte da Piedade - o Monte era o fundo de cereal recolhido e a Piedade referia-se à generosidade das doações ...

PUBLICADO NO JORNAL "NOVA VERDADE" DE 1 DE DEZEMBRO DE 2016

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ECOS DA “MARIA DA FONTE” EM ALENQUER Antes de mais, umas breves palavras sobre o que foi a revolução da “Maria da Fonte” que eclodiu no Minho, na Primavera de 1846, tendo como alvo o governo de Costa Cabral. A contestação focou-se inicialmente nas “Leis da Saúde”, em particular a proibição dos enterramentos nas igrejas. Mas essa proibição terá sido, tão só, a centelha incendiária, pois as tensões políticas acumuladas desde a revolução de 1820 eram muitas e trouxeram ao de cimo o protesto contra outras medidas administrativas como o agravamento fiscal ou uma nova lei de recrutamento militar. Por outro lado, a declarada intenção governamental de construir um Estado moderno, promovendo reformas e obras de vulto, buliu com muitos interesses instalados que o despotismo característico do cabralismo atacou frontalmente. Os enterramentos obrigatoriamente feitos fora do telhado protector das igrejas e o ódio às billhetas da contribuição predial estiveram presentes nos primeiros ...